A pandemia, sem dúvidas, mudou profundamente nossa maneira de consumir. Acelerando demais a digitalização de todo o setor de varejo, mas também mudando a percepção que tínhamos sobre nosso próprio consumo. Parece que nós consumidores fomos forçados a repensar muito sobre nossos hábitos, nossa alimentação, nossos “exageros” na hora de comprar. E tudo isso afeta diretamente as empresas que atuam nessa área.
Por isso entender essas mudanças e como elas afetam os negócios é muito importante para quem quer continuar relevante nesse setor. O design estratégico ajuda as empresas a incorporarem essa visão externa e de longo prazo na estratégia dos negócios, de uma maneira sistêmica.
Trazemos hoje um artigo que descreve algumas das principais tendências desse setor, apresentadas na principal feira da área, a NRF.
Artigo Original publicado na: Pequenas Empresas Grandes Negócios.
Pela primeira vez após o início da pandemia, o varejo mundial se reuniu presencialmente em Nova York, nos Estados Unidos, para a NRF 2022: Retail’s Big Show, que aconteceu entre os dias 16 e 18 de janeiro. O evento é conhecido por apresentar cases de sucesso ao redor do mundo, com maior ênfase nos Estados Unidos, e apontar tendências que devem ser perseguidas pelo setor.
Em 2022 não foi diferente: temas como metaverso, ESG e aprimoramento da experiência de compra dominaram as pautas. O varejo mundial vem enfrentando desafios para lidar com inflação, estoque, desemprego e mudanças radicais nos comportamentos de consumo – que colocaram na berlinda o conceito de digital e online que se conhecia até então. Isso se refletiu também nas discussões do evento.
PEGN conversou com quatro especialistas brasileiros que participaram da NRF 2022 sobre os principais insights apresentados para pequenos e médios empreendedores. Confira:
1. O metaverso já está aí
O tema esteve presente em quase todas as discussões na NRF 2022. Ainda cercado de incógnitas, o metaverso já é visto como uma forma de diversificar as ofertas do varejo no mundo digital. “O e-commerce tradicional já está em xeque. A geração Z acha os sites tradicionais chatos, querem comprar pelas redes sociais, live commerces, algo que proporcione entretenimento”, explica Denis Santini, CEO do Grupo MD.
Um dos painéis do evento, conduzido pelo especialista Lee Peterson, da WD Partners, falou sobre como o varejo vive uma “supernova” (uma explosão estelar) e como esse momento deve ser aproveitado pelos empreendedores para recolocar as peças no lugar, de acordo com as demandas do novo consumidor.
Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da Gouvêa Malls, diz que não se fala mais em omnichannel, mas em uma revolução no conceito de varejo. “O que se vê é essa fragmentação com social selling, live streaming e diversas formas de compra fora da loja física e do e-commerce. É onde entra o ‘metacommerce’. A loja física tradicional e o e-commerce hoje são pouco lúdicos, pouco interativos.”
No evento foram apresentados os cases da NikeLand e da Ralph Lauren, que passou a desenvolver roupas no metaverso, para serem experimentadas pelos clientes no ambiente virtual, antes de irem para as lojas. “Tem um mundo novo surgindo e gerando milhões e milhões de dólares nesse momento porque os clientes estão lá”, diz Tonini Junior, sócio-diretor da Praxis Business.
Santini lembra que o metaverso já está presente na vida dos consumidores de games virtuais há algum tempo e que, em breve, ter um avatar será tão importante quanto ter um perfil em uma rede social. Por mais que a tendência da aplicação da tecnologia aos pequenos negócios ainda esteja no horizonte, 2022 é o ano para se criar uma identidade virtual. “Em 2023 será tarde demais.”
2. Quer crescer? ESG precisa ser na prática
O discurso sobre ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança) ganhou contornos mais concretos ao longo dos dois últimos anos e também foi apontado como um dos fatores emergenciais para o varejo em 2022 na NRF. A era do discurso bonito e vazio acabou. “As marcas estão trabalhando para se aproximar de todas as comunidades e sabem que as pessoas querem se identificar, estar próximas de pessoas iguais a elas. Por isso é importante apostar na diversidade de verdade e dar voz para todos”, explica Santini.
Os especialistas comentam que o fator tem sido priorizado pelas empresas para melhorar a tomada de decisões no dia a dia. A diversidade de raças, gêneros, orientações sexuais, identidade de gênero, religiões, entre tantas outras variáveis, foi apontada como um fator decisivo para que as empresas comecem a inovar de verdade, com foco no consumidor. “O discurso sobre DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) precisa ser alinhado com a prática. Há necessidade de se olhar com mais cuidado para as equipes. O cliente também está de olho nisso”, explica Tonini.
Além dos aspectos de gestão, as marcas têm mostrado preocupação em rastrear o ciclo de vida dos produtos, o que impulsiona a economia circular. O conceito ganhou força ao longo dos últimos dois anos, principalmente no setor de vestuário, e deve se solidificar em 2022. O impulso também tem vindo, principalmente, da geração Z, mais apegada ao consumo consciente. “Não entrar nisso vai gerar problemas sérios. Os consumidores estão engajados com esse comprometimento com a sustentabilidade.”
3. Ano de desafios com estoque e logística
Um dos principais desafios que o varejo mundial enfrentará nos próximos 12 meses será a readequação logística. Juarez Leão, CEO da Leão Group e conselheiro da Associação. Brasileira de Franchising (ABF), diz que os empreendedores do ramo ainda sentem os efeitos da pandemia, e isso ficou ainda mais visível nos Estados Unidos, no período de festas. “Até hoje as lojas sofrem com reposição de estoques.”
As razões para isso são a paralisação de indústrias na China, falta de matéria-prima em diversos setores e o aumento nos preços dos contêineres. “Regularização do suprimento e organização logística estavam em quase todas as palestras. E todos dizem que este é um problema que não será resolvido esse ano”, diz. A atual onda de contaminação pela variante ômicron tem feito com que indústrias diminuam a produção em todo o mundo.
4. Liderança precisa ser autêntica
O work from home (WFH) – o popular home office – é uma realidade. A maior parte dos trabalhadores norte-americanos não deve voltar a trabalhar 100% presencial – e isso também deve se refletir por aqui. As rotinas corporativas caíram por terra: é um novo mundo que se abre. Dessa forma, o gestor precisará desenvolver habilidades para proporcionar uma liderança autêntica, capaz de manter o engajamento das pessoas e a cultura da marca – mas permitir que cada um faça a sua parte de forma personalizada. “A melhor forma de se fazer isso é dando voz para as pessoas, tratando-as de forma exclusiva e mostrando que elas são vistas”, diz Tonini.
5. Grandes marcas se transformam em varejo local
O WFH também vai ditar as regras de relacionamento com os consumidores – boa parte deles também trabalhará mais de casa e criará mais laços com o comércio local. Santini diz que o varejo tem aproveitado essa tendência para crescer com as dark stores ou com lojas pop up em bairros, que fazem a última milha nas compras virtuais e não demandam pontos caros em regiões hipervalorizadas.
“É uma oportunidade para as marcas que não são locais se tornarem locais. As grandes marcas dos Estados Unidos estão montando pequenas lojas locais, com curva ABC, oferecendo muita proximidade”, diz.